PETFLIX - "Para sempre Alice" e a doença de Alzheimer
SINOPSE
Sabemos que a Doença de Alzheimer (DA) é impactante demais para todos os portadores, imagine também o impacto e a reviravolta dessa doença na vida de uma renomada professora de linguística e estudiosa da comunicação, em seu apogeu profissional. Alice Howland (Julianne Moore) descobre que possui DA precoce apenas aos 50 anos, que passa a viver uma tênue linha entre vulnerabilidade e força/coragem. É um choque para todos de seu convívio saber de um diagnóstico desse tipo e Alice, infelizmente, além de lidar com os efeitos do Alzheimer, terá que conviver com o afastamento do esposo (Alec Baldwin). O filme trata bem dos efeitos da doença na família e como a rotina dos filhos de Alice muda com isso tudo. Por outro lado, alguém muito especial para a vida de Alice Howland começa a se aproximar dela...
O ENORME IMPACTO DA DOENÇA DE ALZHEIMER PRECOCE NA VIDA DE ALICE
O filme retrata uma realidade devastadora na vida pessoal de Alice Howland: para ela (uma grande e renomadíssima professora em neurociências e linguística) é desesperador faltarem palavras simples do léxico e ainda repetir as mesmas perguntas e se apresentar repetidas vezes para a mesma pessoa, além da dificuldade de conseguir expressar o que sente/pensa, bem como começar a se perder e não conseguir mais fazer coisas básicas sozinha… Toda a sua vida acadêmica como pesquisadora e professora, a estrutura familiar e seus relacionamentos são abalados por uma doença incomum para a sua idade (aos 50). Algumas mensagens desse drama são o poder da superação e do amor, bem como podemos nos questionar sobre os valores que damos às lembranças que construímos, às nossas vidas, às pessoas que amamos e/ou com quem convivemos ou sobre reconhecer quem realmente somos, quem os outros são, ou ainda refletir sobre o valor das coisas pelas quais tanto lutamos, se estamos priorizando o que é realmente mais precioso em nossas vidas e o quão chocante deve ser perder isso tudo e/ou se esquecer de si mesmo.
O QUE É A DOENÇA DE ALZHEIMER?
O nome homenageia o neuropatologista Alois Alzheimer, também conhecida como "Mal de Alzheimer". É a principal causa de demência, com o número de casos aumentando cada vez mais, com a estimativa de que os casos tripliquem até 2050 no mundo inteiro, estima-se que existam cerca de 50 milhões de pacientes com o diagnóstico. É uma doença neurodegenerativa, ligada em 60-80% das vezes a fatores genéticos (especialmente os alelos APOE). Inclui uma fase celular inicial de deposição de β-amiloide, depois com a disseminação da proteína tau. Por afetar a independência, na realização de atividades cotidianas e interferir na memória, algo tão precioso para seres sociais como nós, pode ser considerada uma doença incapacitante e ainda vista com muito receio, como na história de Alice, que ainda a teve muito precocemente. É bom destacar que a memória comprometida, no geral, é a anterógrada, ou seja, aquela adquirida após o distúrbio.
FISIOPATOLOGIA
É uma doença multifatorial. Hábitos de vida não afetam diretamente a fisiopatogênese da DA como os fatores genéticos afetam, vários estudos vêm sendo feitos para se elucidar os possíveis múltiplos efeitos causadores e dos genes protetores (como o APOE ε2), mas um fator de risco, por exemplo, é ter alteração nos alelos APOE ε4, PSEN-1 e PSEN-2 e esses fatores genéticos estão associados ao início precoce, como aconteceu com Alice! A progressão é lenta e contínua, é seguida de alterações nos neurônios, na astróglia e na neuróglia com um período de 15 a 25 anos entre a normalidade e as manifestações de demência, sendo a idade avançada um fator de risco (> 65 anos) e mais comum em mulheres. Outros fatores de risco associados são estilo de vida não saudável e maior risco cardiovascular. Por outro lado, parte da fisiopatologia é desconhecida, mas existem algumas hipóteses, como a hipótese colinérgica e a hipótese amiloide (esta aborda a deposição de peptídeo β-amiloide em estruturas corticais, hipocampais… O que induz à neurotoxicidade e à proliferação da proteína tau, que é associada aos deficits). Outros diferentes fatores podem ter relação, como má circulação sanguínea, intoxicações, tumores etc. ou fatores que predisponham ao estresse oxidativo, neuroinflamação e/ou injúria de neurônios colinérgicos.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico precisa de muitos critérios (definidos pelo National Institute of Neurological and Communicative Disorders and Stroke e pela Alzheimer’s Disease and Related Disorders Association: NINCDS-ADRDA), que combinam fatores biológicos e clínicos da doença, pois são considerados alguns sinais como afasia, apraxia e agnosia. Estudos têm sido feitos para se fazer uma categorização de biomarcadores (como β-amiloide e tau fosforilada) no fluido cerebroespinhal, para um possível diagnóstico biológico, mais preciso e mais distinguidor entre a DA e a demência. Por muito tempo, o diagnóstico se restringiu aos sintomas de demência, às manifestações neurocomportamentais e aos problemas cognitivos progressivos em vários domínios, que têm um impacto funcional por demais evidente, bem como na vida do paciente e da sua família como um todo. O diagnóstico pode ter apoio de escores e testes neuropsicológicos, bem como de exames de imagem como ressonância magnética e PET scan (para estudar a neuroanatomia e os marcadores). Contudo, vale frisar que se trata de uma doença muito difícil de comunicar ao paciente e à família, como o filme aborda e é fácil entender o porquê!
CONDUTA
O tratamento é feito mediante inibidor da acetilcolinesterase (donepezila, rivastigmina etc.) ou memantina, um agonista dos receptores NMDA (N-metil-D-aspartato), mas outras manifestações neuropsiquiátricas, como agitação, podem ser tratadas com outros fármacos. Alguns tratamentos farmacológicos promissores incluem estratégias anti-inflamatórias, anti-tau, anti-β-amiloide. Quanto à mudança de estilo de vida, há evidências, com diferentes graus de certeza e com algumas limitações, mas a OMS reconhece que algumas mudanças podem ter efeito (como evitar consumo de álcool e tabaco, fazer atividade física, controlar a pressão arterial etc.). Por outro lado, além de ser algo claro, o filme também retrata que pessoas com bom padrão de vida e alta escolaridade, como Alice, não estão livres de terem a doença.
Lembre-se que os tratamentos utilizados servem para mitigar os sintomas, logo sem alterar o prognóstico (e a progressão). Afinal, a DA não tem cura (pelo menos ainda);
A sobrevida oscila em torno de 8 a 10 anos.
NOTA IMPORTANTE
O filme sobre o qual conversamos foi baseado em um livro, o qual também indicamos demais, de leitura fácil, muito clara e com um grande potencial para sensibilizar e emocionar você frente a essa história! Foi escrito por Lisa Genova e separamos um pequeno trecho para você conhecer:
"Já naquela época, mais de um ano antes, havia na cabeça dela, não muito longe das orelhas, neurônios que vinham sendo estrangulados até a morte, em demasiado silêncio para que ela os ouvisse. Alguns diriam que as coisas corriam tão insidiosamente mal que os próprios neurônios desencadearam os acontecimentos que levariam à sua própria destruição. Se foi um assassinato molecular ou um suicídio celular, eles não puderam alertá-la para o que estava acontecendo antes de morrerem."
REFERÊNCIAS
SCHELTENS, Philip et al. Alzheimer’s disease. The Lancet, [S. L], v. 397, n. 10284, p. 1577-1590, 24 abr. 2021. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)32205-4
BREIJYEH, Zeinab et al. Comprehensive Review on Alzheimer’s Disease. Molecules: Causes and Treatment, Jerusalem, v. 25, n. 5789, p. 1-28, 08 dez. 2020. doi: 10.3390/molecules25245789
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